A florista Paula Abarno, à frente do Botanik Lab, em São Paulo, descobriu sua verdadeira vocação em um gesto de coragem – foi no início do período de quarentena que, assistindo a aulas de floricultura em vídeo, decidiu aproveitar a proximidade do Dia das Mães para comercializar seus primeiros arranjos. “Comprei os materiais por conta própria, em fornecedores que descobri pelo Instagram, e pensei que, se vendesse oito arranjos, já teria valido a pena para um primeiro momento. Vendi 100!”, conta, emocionada, nos recebendo para as fotos em sua casa vibrante e alto astral.

"É muito especial trabalhar com as emoções das pessoas, entregar um presente em uma data especial… Fico feliz em saber que o arranjo pode mudar o dia de quem o recebe."


Para ela, existe um paralelo muito forte entre a moda e o trabalho com flores. "O processo de me vestir, tanto quanto o de criar arranjos, são formas de me expressar, usar a criatividade, imprimir o meu olhar nas composições. Me vejo, inclusive, como uma flower stylist – assim como com as roupas, gosto de misturar cores e texturas pouco óbvias, não me apegar às regras, mas sempre buscando um resultado harmônico", analisa.


Publicitária de formação, ela tinha construído sua carreira no mundo corporativo e universo da moda. Apesar de ter afinidade com o assunto e gostar do trabalho, nunca tinha identificado sua profissão como seu propósito. "Eu já tinha me questionado muito sobre a real possibilidade de que todo mundo trabalhasse com aquilo que verdadeiramente ama. Tinha chegado à conclusão que, por mais que gostasse do meu trabalho, não seria o meu caso". Com a primeira experiência em seu Botanik Lab, tudo mudou.


Mãe da pequena Betina, de um ano e meio, Paula é grata pela oportunidade de trabalhar em casa. "Há algum tempo eu já estava sentindo falta de um novo desafio profissional. Minha gravidez foi uma surpresa, e acabou gerando uma desacelerada no quesito carreira. No início do ano, estava retomando os processos seletivos quando começou a quarentena. Logo depois, quase espontaneamente, surgiu o Botanik. Me sinto imensamente privilegiada de ter encontrado minha verdadeira vocação em um formato de trabalho que me permita estar próxima da minha filha".


Para encorajar guinadas ousadas e criativas de carreira, como a dela, fica a dica: "Sei que é mais fácil falar do que fazer, mas tente ao máximo se desligar do medo de críticas e julgamentos dos outros. Ser 'cara de pau' é muito importante. Se arrisque a fazer o que ama, faça com todo coração. Vai dar certo. E, se não der, tudo bem também – sabe aquela coisa de 'o não você já tem'? O aprendizado é válido de toda forma!".

Arquiteta e Urbanista de formação, jornalista por vocação e feminista de carteirinha, Stephanie Ribeiro, atualmente colunista da revista Marie Claire, nos recebeu em seu apartamento colorido e altamente Instagramável que é puro alto astral: abundante em plantas, livros e peças de decoração finamente garimpadas nos lugares mais improváveis. E o resultado, em pleno mês de comemoração ao Dia Internacional da Mulher, foi um bate-papo superespecial sobre estilo e empoderamento feminino.

"A escrita é uma forma de empoderamento pra mim, de colocar pra fora o que acredito e de quebrar um silêncio que é histórico e estrutural."


Seus textos, inspiradores, passam por questões raciais e de gênero, além de design e empreendedorismo. “Foi uma forma que encontrei de me aproximar de pessoas com uma linha de pensamento próxima à minha, que me entendessem e fossem empáticas”, conta. E, assim como em sua escrita, a estética que Stephanie adota para si e para sua casa tem tudo a ver com a forma como enxerga o mundo e a si mesma dentro dele.

A combinação de cores “afrontosas”, como ela mesma define, é essencial em seu estilo, e ela deixa a dica das suas inspirações: “sempre digito no Google ‘cores complementares’ e ‘cores opostas’ para ter ideias de como coordenar. Funciona tanto no look quanto na decoração”.


De olho no estilo inspirador e empoderado da Sté, com composições visuais espontâneas, livres de preconceitos e, principalmente, de receios, fizemos um bate-bola bem legal e que mostra bem como ela expressa sua identidade e personalidade:



Uma combinação de cores: Posso falar várias? Eu A-DO-RO azul com rosa, laranja com verde, rosa com vermelho, além das combinações monocromáticas e com variações de tons.

Um acessório: Gosto muito de roupas amplas, então o cinto é um dos meus acessórios favoritos. Também adoro brincos, de preferência pequenos, simples e que combinem com tudo.



Um truque de styling: Na dúvida, sempre vou em uma peça única, porque vestidos, macacões e conjuntos dificilmente têm erro. E outro truque legal é que sempre compro roupas que ficam grandes no meu corpo, tanto porque gosto do conforto quanto porque acho que a amplitude fica mais elegante.

Mulheres que inspiram seu estilo: Não só no vestir mas também no comportamento, eu amo a Tracee Ellis Ross, atriz americana, uma mulher madura e estilosa; a Solange Knowles, cantora que tem uma visão estética que se amplia a tudo, dos clipes à roupa, cabelo e vida; e a Whitney Houston, que eu amo principalmente as fases dela nas décadas de 80 e 90. Aliás, gosto de pesquisar as mulheres negras dessa época, o que elas estavam vestindo, falando, o corte de cabelo...


A arquitetura foi parte crucial na construção de seu estilo de vestir, trazendo inspirações visuais, sociais, e de seus processos. Quando era mais nova, admite, tinha muita vergonha, talvez por não se sentir representada, e complementa que “mulheres como eu precisam ter coragem. Gosto de me vestir de uma forma que não dê pra me esconder”.

"Inúmeras mulheres foram silenciadas ao longo de suas vidas e hoje precisamos refletir sobre o poder que está na nossa fala."


Pra fechar nosso papo, nada como uma inspiração de lifestyle! E dessa vez ele vem com uma dose extra de arte. Prepare um tempinho na agenda para as dicas da Stephanie a seguir:


Um livro: O meu livro preferido é “Adeus, Haiti”, da Edwidge Danticat, e um livro que li ano passado e me marcou muito foi “Afetos ferozes”, da Vivian Gornick. São livros que contam histórias reais de uma forma romanceada, e essa é uma vertente que eu gosto muito.

Podcast: Participei de dois episódios do “Bom dia, Obvious”, adoro a forma como a Marcela fala, as temáticas, o time, tudo é muito legal.


Um lugar em São Paulo: Gosto muito do Museu da Casa Brasileira, que é um dos meus espaços favoritos na cidade e as pessoas não frequentam tanto.

Uma arquitetura incrível: O Sesc Pompeia, porque pra mim não tem nada mais bonito do que aqueles espaços, interação da construção com a rua. A rua pra mim é o espaço público mais importante e de eterna disputa, porque vivemos em uma sociedade que valoriza o automóvel e que desvaloriza estarmos nas ruas e ocupá-las.

Uma mulher que você admira e por que: Sem dúvidas a Bell Hooks. De todas as autoras que já li sobre feminismo e questões raciais ela é a que mais me toca e inspira.

Jornalista e fundadora do Plano Feminino, uma consultoria com foco em gênero, raça e diversidade, Viviane Duarte costuma dizer que “hackeou” o sistema. E o fez muito bem, né? Afinal, toda mulher tem um plano, seja ele de viagem, de vida, de carreira ou de ser feliz. E foi de uma periferia na Zona Norte de São Paulo que a Vivi traçou o dela: defender causas nobres como igualdade de gênero e o empoderamento feminino, usando a publicidade como ferramenta de transformação social.



“O Plano Feminino vem colocando a mulher negra na publicidade como protagonista de sua história.”

Plano de voo

E os seus planos, quais são? Para colocá-los em prática e protagonizar sua história, captamos uma seleção de dicas com a empresária. Confira:

#1 Olhe para o espelho e se valide - todos os dias. Acreditar em você fará toda diferença;

#2 Tire gente tóxica do seu convívio. Estar ao lado de pessoas que te colocam pra baixo e te desvalorizam é o melhor caminho para o fracasso. Limpe essa vibe!

#3 Estabeleça uma lista de negociáveis e inegociáveis para sua vida pessoal e profissional. Saber o que você não quer e não negocia te ajudará a ter mais clareza para realizar seus planos.




#4 Faça planos de ação e tenha coragem de tirá-los do papel. Lembrando que relações têm valor e você pode botar seu plano na rua sem tirar um real do bolso - só conectando pessoas ao seu propósito e criando uma rede verdadeira de networking.

#5 Se capacite todos os dias para superar a você mesma e tire os olhos da grama do vizinho. Parece mais verde, mas pode acreditar que é só ilusão de ótica. Todas nós temos nossos dias bons e ruins - cuide de sua saúde mental e física e entre no jogo da realização de planos para ganhar!

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Aliás, a moda tem tudo a ver com isso. O estilo dela de combater é positivo e altivo, assim como seu jeito de ser, sempre pautado na força de cores ora vibrantes, ora pastel. “Sempre usei a moda a meu favor para ajudar a me expressar, imprimir meu estilo, personalidade e me posicionar. Gosto de chegar chegando”, diz ela, que adora ir do visual clássico ao urbano.

A escolha do look é essencial nesse processo de posicionamento e, além de garantir estilo, imprime a personalidade da Vivi. “Gosto de chegar chegando!”, completa. E você, o que acha de se inspirar e garantir uma composição elegante no escritório com peças em tecidos finos?


“Quando a gente descobre que não precisa ser refém da moda e sim tê-la como aliada, como uma ferramenta de empoderamento e construção da nossa jornada, é maravilhoso.”


E para fechar esta história, nós não poderíamos deixar de lado as referências inspiradoras da Vivi. Separe um tempinho pra você e fique de olho nessas apostas de lifestyle que precisam ficar no seu radar:

Um livro de cabeceira: Mulheres que correm com lobos (estou lendo pela segunda vez. É denso. É doído. É curativo. É necessário.)

Uma música que não sai da sua cabeça: Dog days are over - Florence e Formation da Bey rainha!

Um podcast para ouvir indo ao trabalho: O meu com minha amiga Flavia Mello: Família Feminista!

Um filme que te inspira: Estrelas Além do Tempo, porque me impulsiona a fazer mais em minha geração para abrir ainda mais espaço de voz às mulheres, especialmente as negras, e buscar a equidade que tanto nos é negada nesta sociedade.